160 anos da chegada de Júlio Dinis a Ovar


(1863-2023)


Entre 7 de maio e 26 de agosto, Ovar comemora os 160 anos da estadia de Júlio Dinis nesta cidade portuguesa, que em 1863 era vila e era aldeia. Nas palavras de Júlio Dinis:

Ovar é uma vila e é uma aldeia. Pode-se aqui viver segundo as predilecções de cada um, uma vida de cidade pequena, ou uma vida de aldeia.

Ainda hoje, a cidade de Ovar se encontra permeada e rodeada de belas paisagens naturais que, como já então reconheceu o grande escritor português, conferem à sua estrutura urbanística características peculiares. Mas não foi somente o património natural o que impressionou o autor das três Crónicas da Aldeia (Pupilas do Senhor Reitor, Morgadinha dos Canaviais e Fidalgos da Casa Mourisca). A maneira característica de ser do povo de Ovar, e a forma como esse mesmo povo preserva as tradições e costumes locais, valorizando a sua identidade cultural, também fez despertar em Gomes Coelho os gostos campesinos, que até aí desconhecia – como ele próprio confessa numa carta dirigida a um poeta portuense seu amigo, Custódio de Passos.

Mas porquê esta afinidade, quase espontânea, com Ovar? E se Gomes Coelho, que era natural da cidade do Porto, já tinha anteriormente viajado pela província do Minho, comummente reconhecida pela beleza das suas paisagens naturais, por que razão, só em Ovar, despertam nele esses gostos campesinos? Tanto mais que, como ele próprio desabafa, sente, na região de Ovar, a falta de uma montanha, ou até mesmo de um simples monte!…

Parece-me que essa grande afinidade poderá ser facilmente compreendida e aceite, se nos lembrarmos do seguinte:

Joaquim Guilherme Gomes Coelho (que usou dois pseudónimos diferentes: Júlio Dinis e Diana de Aveleda) viu a sua mãe morrer, na sequência da tuberculose (em casa de amigos, em Grijó), quando ainda não tinha completado os seis anos de idade. E esta perda marcou-o, compreensivelmente, para o resto da sua vida.

Quando em 7 de Maio de 1863, com vinte e três anos, o jovem Gomes Coelho chega a Ovar, a casa de uma tia paterna, que o recolhe carinhosa e maternalmente, é também compreensível o que no mais íntimo do seu ser esse acolhimento teria significado. Sobretudo, se também nos lembrarmos que o jovem médico tinha tido, nos dias anteriores à sua chegada, uma hemoptise que lhe veio lembrar que a sua vida também seria curta, como tinha sido a de sua mãe. Pois, nesse tempo, como ele bem sabia, ainda não havia um tratamento eficaz contra a tuberculose.

Para além disto, é importante não esquecermos que Gomes Coelho tinha, realmente, raízes genealógicas em Ovar. Não só seu pai, como toda a  sua família paterna era natural dessa região.

Os textos literários de Júlio Dinis ou de Diana de Aveleda, assim como a correspondência particular de Gomes Coelho, dão testemunho da sua afinidade com Ovar. Também neles se encontram dados concretos que comprovam a influência que as impressões recolhidas pelo autor na região de Ovar exerceram na sua produção literária, a partir do final da primavera de 1863 (sobre estes assuntos, pode continuar a ler AQUI ; AQUI ; AQUI).


Exposição patente ao público de 7 de maio a 26 de agosto


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https://cultura.cm-ovar.pt/pt/agenda/53619/160-anos-da-chegada-de-julio-dinis-a-ovar.aspx


Entrada: gratuita

Destinatários: todos os públicos

Horário: terça a sábado 09h30-12h30 / 14h00-17h00

+Info: [email protected] | 256 581 378


Museu Júlio Dinis – Uma Casa Ovarense


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https://www.cm-ovar.pt/pt/menu/2891/museu-julio-dinis—uma-casa-ovarense.aspx


Rua Júlio Dinis, 81 | 3880-238, Ovar

(+351) 256 581 300/78

[email protected]

Ter. a sáb. 9h30-12h30 / 14h-17h

Encerra aos domingos, segundas e feriados


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OVAR, A CIDADE MUSEU-VIVO DO AZULEJO


https://turismodocentro.pt/artigo/ovar-a-cidade-museu-vivo-do-azulejo/


Ovar, Visitar a Cidade-Museu Vivo do Azulejo



Na minha opinião, visitar a região de Ovar é fundamental para melhor se mergulhar no universo ficcional das Crónicas da Aldeia, de Júlio Dinis. Por isso, deixo-lhe aqui um desafio: se viajar pela região de Ovar, não se esqueça de levar um romance de Júlio Dinis na bagagem.


Pão de Ló de Ovar Cruz


E, se gostar de pão de ló, aconselho-o (a), caso ainda não conheça, a provar o Pão de Ló de Ovar Cruz. Atendimento simpático, e, seguramente, o melhor pão de ló que alguma vez comi. Deixou-me saudades de Ovar. Perguntei-me se teria acontecido o mesmo com Júlio Dinis…

 A casa que o vende, fica perto da Casa-Museu, junto ao Jardim dos Campos. Deixo abaixo a ligação para a página do Facebook, que descobri hoje, por casualidade:


https://www.facebook.com/paodelocruz


Fernanda Alves Afonso Grieben

[email protected]

Sou pintora, originária do Norte de Portugal, mas resido atualmente na Alemanha. Também gosto de escrever textos literários, sobretudo para a infância. Faço-o, principalmente, para mim própria. No entanto, alegro-me sempre que encontro uma possibilidade de partilhar a minha escrita com as demais crianças, de todas as idades. Sou Mestre em Teologia (UCP); Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas – variante de Estudos Portugueses e Doutorada em Estudos Portugueses, na especialidade de Literatura Portuguesa (UAb).

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