«A Sombra de Eurídice», de Teixeira de Pascoaes
I
Canção divina as cousas comovia,
E de ternura as árvores choravam…
E lembrava o luar a luz do dia
E os ribeiros, extáticos, paravam.
Era Orfeu, de inspirado, que descia
Às entranhas da terra! E se afundavam
Os seus olhos na noite, muda e fria,
Onde as pálidas sombras vagueavam.
Eurídice, o seu morto e triste amor,
Ouvindo-o, tomou forma e viva cor,
Intima luz à face lhe subiu…
Mas Orfeu, pobre amante enlouquecido,
Quis ver aquele corpo estremecido…
E, outra vez sombra, Euríclice fugiu…
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PASCOAIS, Teixeira de, pseud.
As sombras ; Senhora da noite ; Marânus / Teixeira de Pascoais. – Lisboa : Círculo de Leitores, 1973. – 348, [3] p. ; 18 cm
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