Sophia Andresen: entre esoterismo e cristianismo


Uma viagem sem princípio nem fim… com Sophia de Mello Breyner Andresen: entre esoterismo e cristianismo


RESUMO


A análise literária de um conto de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) que integra a coletânea Contos Exemplares – intitulado «A Viagem» – serviu de base, nesta dissertação de Mestrado Integrado em Teologia, a uma reflexão filosófico-teológica.

O estudo dos principais símbolos – fundamentado na Psicologia Analítica, segundo Carl Gustav Jung (1875-1961) –, no contexto textual em que ocorrem, revelou que os mesmos podiam ser considerados símbolos alquímicos. Neste sentido, e em consonância com a tradição alquímica na linha de Paracelso, o percurso realizado pelos protagonistas do conto «A Viagem» – «homem» e «mulher» (o andrógino) – pôde ser comparado tanto ao segundo estádio da Grande Obra, o Albedo, como à terceira «Viagem Simbólica», segundo o «Ritual do Grau Rosa-Cruz para os Ritos Escocês e Francês», em conformidade com a Liturgia Maçónica. Assim, foi possível concluir que, sob um ponto de vista simbólico, os factos narrados podiam corresponder a um percurso de regeneração interior (ou a uma ressurreição) em busca de um centro espiritual: «um lugar maravilhoso», que corresponderia ao paraíso terrestre. É sempre este, em última instância, o alvo do alquimista espiritual, que tenta atingi-lo para poder saborear ‘o fruto da árvore da vida’, ultrapassar a temporalidade e vencer a morte. Mas será também este o alvo da vida cristã, de acordo com a ortodoxia católica?


PALAVRAS-CHAVE: Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004); Contos Exemplares; Análise Literária; Simbologia Alquímica; Liturgia Maçónica; Ética Cristã.


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GRIEBEN, Fernanda Alves Afonso – Uma viagem sem princípio nem fim… com Sophia de Mello Breyner Andresen: entre esoterismo e cristianismo. Porto: Universidade Católica Portuguesa, 2010. 126 p.


Esta Dissertação de Mestrado Integrado em Teologia pode ser consultada, presencialmente, nas bibliotecas da UCP:

https://catalogo.bibliotecas.ucp.pt/cgi-bin/koha/opac-detail.pl?biblionumber=243106


No entanto, a sua autora também pode disponibilizar uma cópia da dissertação (em documento word), através do seguinte endereço eletrónico: [email protected]


0. Introdução………………………………………………………………………………  6

Capítulo um – A Viagem: a autora e o texto literário…………… 8

      1.1 A construção narrativa……………………………………………………. 9

      1.2 O ideal utópico……………………………………………………………… 21

      1.3 O maravilhoso e a Literatura………………………………………… 34

      1.4 A encruzilhada……………………………………………………………….. 37

Capítulo dois – Em busca de totalidade……………………………… 47

      2.1 Uma viagem simbólica……………………………………………………48

      2.2 O abismo……………………………………………………………………… 68

      2.3 O espelho………………………………………………………………………79

      2.4 O jardim dos alquimistas……………………………………………. 84

      2.5 O centro………………………………………………………………………. 97        

Conclusão……………………………………………………………………………….114           

Bibliografia……………………………………………………………………………..116        


0. INTRODUÇÃO


«Além do mais que possa ser, – é cada livro um documento histórico: pois marca não só uma época da vida do autor e um passo da sua carreira, como, às vezes, um dado momento histórico da evolução da humanidade» – José Régio[1]

Iniciaremos este estudo, debruçando-nos sobre a construção narrativa do conto A Viagem, de Sophia de Mello Breyner Andresen, tendo a intenção de realçar os elementos estruturais da dinâmica interna do texto que melhor poderão servir a fundamentação de uma reflexão ética – que é o principal objectivo deste estudo –, inspirada na narrativa literária. O método escolhido de análise estrutural da narrativa revelará alguma preferência pelo caminho percorrido por uma escola que, se viu certa glória no seu tempo – pelo que trouxe de inovador no campo dos estudos literários –, começou mais tarde a ser encarada com algumas reservas. Referimo-nos aos formalistas russos, do século passado[2]. A escolha deste método, porém, foi deliberada. O contributo, pioneiro, prestado por esta escola, principalmente por Propp (Morfologia do Conto) – que fez um sério estudo comparativo dos contos populares russos –, pareceu-nos fundamental para o nosso estudo. Pois, como Todorov reconhece, referindo-se aos estudos de Propp sobre a morfologia do conto, estes textos têm «o seu valor próprio», visto que levantam «um problema actual para o estudo estrutural dos mitos, dos sonhos, etc.»[3]. É neste sentido que se revela a importância desta corrente de crítica literária para o nosso estudo, que, com J. Tynianov, tentará ver a unidade da obra literária, não como uma entidade simétrica e fechada, mas como «uma integralidade dinâmica que tem o seu próprio desenvolvimento» e, por isso mesmo, «os seus elementos não são ligados por um sinal de igualdade e de adição, mas por um sinal dinâmico de correlação e de integração»[4]. A análise da narrativa literária (não no sentido estrito da análise estrutural, mas no sentido mais amplo da análise literária que inclui um espaço de diálogo intertextual, contextualizado) prolongar-se-á, aliás, neste estudo até o final, acompanhando toda a reflexão filosófico-teológica. Pois, não queremos perder de vista – na nossa reflexão –, nem o texto, nem a sua autora real. Já que concordamos totalmente com as palavras de José Régio, acima citadas, com que começámos esta introdução.

Num segundo e último capítulo, meditaremos esse conto de Sophia em função da sua imagística simbólica – estabelecendo paralelos entre Alquimia, Psicologia e Ética – sem nos esquecermos, porém, de que a imagística, enquanto estrutura componente de um texto literário, «é uma das partes do estrato sintáctico ou estilístico», logo «não deve ser estudada isolada dos outros estratos, mas sim como elemento da totalidade, da integridade da obra literária»[5].

Resta-nos, por fim, esperar que este estudo, que dedicamos à Sophia, e que – acima de tudo – pretende exprimir a grata lembrança a uma autora que desde a nossa infância marcou, de forma decisiva, a nossa visão da vida e do mundo, não desperte nela sentimentos idênticos a este que podemos ler aqui expressado, numa carta escrita a seu amigo Jorge de Sena, a 9 de Abril de 1970: «Sobre mim têm-se escrito coisas tão estúpidas que não as guardo, senão raramente, mas mesmo o que guardo é guardado com desordem»[6].


[1] RÉGIO, José – Biografia. 2aed. Porto: Arménio Amado – Editor, 1939, p. 9 [Prefácio].

[2] «Formalismo foi o termo que designou, no sentido pejorativo em que os seus adversários o consideravam, a corrente de crítica literária que se manifestou na Rússia de 1915 a 1930. A doutrina formalista está na origem da linguística estrutural, pelo menos da corrente representada pelo Círculo Linguístico de Praga. Hoje, numerosos domínios são atingidos pelas consequências metodológicas do estruturalismo. Assim, as ideias dos formalistas estão presentes no pensamento científico actual; em contrapartida, os seus textos não puderam transpor as múltiplas fronteiras que surgiram posteriormente»: Todorov, Paris, Novembro, 1964. In TEORIA da literatura – I: textos dos formalistas russos apresentados por Tzvetan Todorov. Lisboa: Edições 70, 1999, p.17 [Prefácio].

[3] Ibidem, p. 27-28.

[4] TYNIANOV, J. – A noção de construção. In Ibidem, p. 122.

[5] Cf. WELLEK, René; WARREN, Austin – Teoria da Literatura. Mira; Sintra; MemMartins: Publicações Europa América, copy 1949, p. 261.

[6] SOPHIA de Mello Breyner; SENA, de Jorge – Correspondência 1959-1978. 2a ed. [Com três cartas inéditas]. Lisboa: Guerra e Paz, 2006, p. 109.


Fernanda Alves Afonso Grieben

[email protected]

Sou pintora, originária do Norte de Portugal, mas resido atualmente na Alemanha. Também gosto de escrever textos literários, sobretudo para a infância. Faço-o, principalmente, para mim própria. No entanto, alegro-me sempre que encontro uma possibilidade de partilhar a minha escrita com as demais crianças, de todas as idades. Sou Mestre em Teologia (UCP); Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas – variante de Estudos Portugueses e Doutorada em Estudos Portugueses, na especialidade de Literatura Portuguesa (UAb).

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