Luís de Camões (1524?) | 2024
No quinto centenário do nascimento do Poeta…
A história de Camões confunde-se, ainda hoje, com o mito a que o seu nome deu origem. Na realidade dos factos, pouco ou quase nada se sabe acerca da vida do homem que foi Luís Vaz de Camões, considerado, posteriormente, o Poeta maior da Língua Portuguesa. Nem sabemos, de facto, se é licito, ou não, comemorar, no ano corrente, o quinto centenário do nascimento do Poeta português, que tinha origens galegas, por via paterna.
Em 1867, quando ainda se pensava que Luís de Camões nascera em 1517, é inaugurado, na praça homónima, em Lisboa, um monumento erigido ao Poeta ‘por subscripção’. Esse evento é um facto histórico que ficou lavrado num ‘Auto de Inauguração’, publicado na edição de 10 de outubro de 1867, do jornal Diario de Lisboa. Abaixo, transcrevo as principais passagens desse auto, que foi reproduzido, nesse mesmo ano, no Semanário “ARCHIVO PITTORESCO”:
AUTO DE INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO CONSAGRADO A CAMÕES
Aos 9 dias do mez de outubro do anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1867, n’esta cidade de Lisboa e praça de Luiz de Camões, a qual se achava devidamente adornada e embandeirada, e o monumento todo velado, se procedeu à ceremonia da inauguração do monumento erigido por subscripção a Luiz de Camões, com as solemnidades prescriptas no programma approvado pelo real decreto de 2 de outubro corrente, na forma seguinte:
Depois da 4 horas da tarde, tendo chegado sua magestade el-rei o sr. D. Luiz I e sua augusta esposa, a rainha sr. D. Maria Pia, sua magestade el-rei o sr. D. Fernando e sua alteza o serenissimo sr. infante D. Augusto, se dirigiram á tribuna do lado do norte, que se havia armado para a familia real, recebendo a continencia das tropas formadas em parada, e tocando todas as bandas de musica reunidas na praça a marcha dedicada a Camões por Arthur Frederico Reinhardt. […]
Ahi o vice-presidente da commissão central, o commendador Francisco de Paula Sant’lago, na ausencia do presidente, o ex.mo duque de Saldanha, leu a seguinte allocução :
« Senhor. – A commissão central dos subscriptores para o monumento consagrado a Luiz de Camões tem a ventura de se congratular com vossa magestade pela chegada d’este dia suspirado ha seculos.
« Para solver esta divida nacional, contribuiram não só portuguezes espalhados por todo o orbe e os poderes publicos d’este reino, mas os estrangeiros admiradores do grande poeta, e principalmente o povo brasileiro e seu illustrado imperador, para os quaes tambem esta divida era de familia. […]
Sua magestade el-rei D. Luiz I dignou-se proferir o seguinte discurso:
«Honramos hoje a memoria de Luiz de Camões. N’aquelle monumento ficará lembrado o reconhecimento da patria! […]
Em seguida o vice-presidente da commissão central pediu venia a suas magestades para lhes apresentar o esculptor Antonio Victor Figueiredo de Bastos, auctor do monumento, ao qual sua magestade el-rei o sr. D. Luiz I houve por bem conferir o gran de official da muito antiga e nobilissima ordem de S. Thiago do merito scientifico, litterario e artistico. […]
Por ultimo foi lido este auto para ser assignado como se determina no programma official. E eu, Joaquim Pedro de Sousa, secretario da commissão central dos subscriptores, o lavrei e subscrevi, tirando d’elle um traslado para o archivo nacional da Torre do Tombo, e outro para o archivo dos paços do concelho.- Joaquim Pedro de Sousa.
Declaro que sua magestade a rainha não pôde concorrer a este acto, ficando por esta declaração alterados o segundo e terceiro periodos d’este auto.- Joaquim Pedro de Sousa.
Seguem as assignaturas […]
(Cf. “ARCHIVO PITTORESCO”. SEMANARIO ILLUSTRADO. X (1867), p. 219-220. Apud Diario de Lisboa n.º 229, de 10 de outubro de1867).
Imagem copiada de:
CAMOES, Luís de, 1524-1580
Sonetos / cordenados e acompanhados com um escorço biográfico … por Teófilo Braga. I parte. – Lisboa : A Educadora- Empresa Editora, 1913, p.32.
Disponível em:
BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL
https://bndigital.bnportugal.gov.pt
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