Como não se deve rezar?
Nas vossas orações não useis de vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. Não sejais como eles, porque o vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes (Mt 6,7-8).
Portanto, orai desta maneira:
Pai nosso que estás nos céus,
Santificado seja o teu Nome,
Venha o teu Reino,
Seja feita a tua Vontade
Na terra, como no céu.
O pão nosso de cada dia
Dá-nos hoje.
E perdoa-nos as nossas dívidas
Como também nós perdoamos aos nossos devedores.
E não nos exponhas à tentação
Mas livra-nos do Maligno (Mt 6,9-13).
Nos versículos 7 e 8 do sexto capítulo do Evangelho segundo S. Mateus (acima transcritos), Jesus esclarece de forma clara e sucinta como não se deve rezar. O ato de rezar – ou seja, o orar a Deus, pedindo-lhe algo de que temos necessidade – não requer muitas palavras, nem repetições. Porquê? Porque Deus, que está sempre presente e nos Ama, já sabe muito bem do que necessitamos, antes de lho pedirmos. Mas, se assim é – poder-se-ia argumentar –, haverá, realmente, necessidade de orar? Ou, por que razão precisa Deus que formulemos os nossos pedidos em oração, para os atender? A resposta de Jesus a esta dupla questão, apresenta-a S. Mateus nos versículos seguintes (9 a13, acima transcritos), ao introduzir a única oração que Jesus ensinou aos Seus apóstolos: o Pai-nosso (ou oração dominical, isto é, oração do Senhor). É sobre este modelo de oração, paradigma do correto orar a Deus, que convém, pois, refletir.
O que primeiramente sobressai, quando proferimos a oração do Pai-nosso, é a relação dialogante – espontânea e familiar – entre o nosso Eu orante e Deus, que é nosso Pai. Mas este Eu orante não é um eu qualquer. É o Eu da nossa criança interior, porque o termo que Jesus emprega – Abba (papá ou paizinho) – era usado pelas crianças hebraicas desse tempo para expressar o carinho que sentiam por seu pai. Logo, o primeiro postulado do ato de rezar implica uma predisposição interior para regressar ao tempo da infância.
Ainda te lembras de como era ser criança?
O regresso ao tempo da infância, na relação dialogante entre o nosso Eu orante e Deus, torna-se, assim, na base em que deve assentar o ato de rezar.
O segundo aspeto que ressalta, quando proferimos a oração do Pai-nosso, é o facto das suas petições serem formuladas no plural, e não no singular. Através delas, o Eu orante pode tomar consciência da sua condição de sujeito coletivo. Diferentemente do Pai que está no ‘céu’, e é só Um, o Eu orante, que está na Terra, integra o conjunto dos Filhos de Deus, que formam a humanidade inteira. Atingir este estado de consciência é fundamental para se saber o que é lícito, ou não, pedir.
Quando formulas o(s) teu(s) pedido(s), na tua oração a Deus, tens consciência de ser um sujeito coletivo?
Tomar consciência de que todos somos Irmãos é, pois, fundamental, para se saber o que devemos pedir, ou não, a Deus-Pai na nossa oração.
O postulado mais importante do ato de rezar, contudo, é salientado na oração do Pai-nosso quando o Eu orante formula uma profissão de fé, pedindo ao Pai a vinda do Seu Reino e que a Sua Vontade seja feita sobre a Terra. Desta forma, o Eu orante afirma que acredita, e confia, que a Vontade do Pai – que está no ‘céu’, ou seja, que é Espírito – também pode reinar na Terra, assim como reina no Céu. Logo, este postulado fundamental do ato de rezar implica uma predisposição interior para receber o Espírito do Pai (o Espírito Santo), iluminado pela Fé, que “é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se veem” (Heb 11,1).
Quando formulas o(s) teu(s) pedido(s), na tua oração a Deus, tens consciência da importância deste postulado fundamental?
Formulado no Pai-nosso – e constituindo, segundo os Evangelhos, o núcleo da pregação de Jesus –, a vinda do Reino de Deus (ou Reino dos céus) torna-se, assim, no centro da mensagem evangélica (a Boa Nova) – que todo o cristão tem o dever de anunciar. Uma forma importante de o fazer, perante o Pai e os Irmãos, é invocando o Espírito Santo, nas nossas orações.
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