Ginkgo Biloba (IV)
EU SOU a árvore que Goethe cantou
Uma estufa!
A nossa viagem chegou ao fim. E com que ansiedade esperávamos que alguém nos tirasse, finalmente, da carroça!
À nossa volta só se viam campos e mais campos, descampados. Vegetação quase não existia, e um edifício de grandes dimensões, todo construído num material transparente, era o único marco civilizacional naquela região.
Ao que parece, ainda havia mais possibilidades do que aquelas que as minhas companheiras tinham visionado…
O carroceiro, que nos conduzira até ao nosso destino, também foi quem nos transportou, uma após outra, para o interior do edifício.
Lá dentro, porém, estava-nos reservada uma grande surpresa: as mais diferentes espécies de plantas encontravam-se ali juntas, plantadas em canteiros ou em vasos de barro. Mas o mais interessante residia no facto de todas elas estarem bem tratadas e parecerem felizes.
As camélias, que eram vizinhas das laranjeiras, foram as primeiras a cumprimentar-nos:
– Sede bem-vindas, sede bem-vindas! Na nossa estufa, há sempre lugar para mais companheiras.
– Donde vêm? – perguntou-nos uma tulipa, curiosa.
– Pobrezinhas! Devem estar muito cansadas da viagem… Têm um ar tão desgraçado! – comentaram a uma só voz as árvores da borracha, que são muito sensíveis a mudanças.
Nenhuma de nós respondia. Pois a verdade é que tanto estávamos cansadas como desiludidas. Quem diria que, depois de todo o sofrimento por que tínhamos passado, o nosso destino seria uma estufa?!! Há sortes mesmo degeneradas!…
O lugar que nos foi reservado, no entanto, parecia privilegiado, dentro daquela prisão. Fomos colocadas num sítio soalheiro e bem protegido, perto das plantas mais sensíveis que ali se encontravam: os crisântemos.
Eu também gostaria de ter colocado algumas questões, porque o receio e a dúvida iam crescendo de forma ameaçadora em meus pensamentos. Mas, observando todo aquele ambiente que nos rodeava, fiquei com a certeza de que tínhamos ido parar a um mundo de ignorância vegetal… E num olhar rápido, deitado às minhas companheiras de chegada, pude entender que elas tinham tirado iguais conclusões.
Era mesmo assim como a minha avó costumava dizer: “Há sempre um tempo para o mais belo sonho acabar”. Destino de árvores!
Perante o nosso silêncio, as restantes espécies vegetais, que ali coabitavam, decidiram deixar-nos em paz e não nos fizeram mais perguntas. E nós pudemos ver, com olhos tristes de árvores, como o nosso transportador, aproximando-se da porta de saída, a trespassava e fechava nas suas costas, deixando-nos ali.
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